Jorge Palma - Disse Fêmea






disse fêmea mulher feita
disse fêmea disse cresce
disse muda perde a estúpida inocência
dia após dia para aonde ía
disse fêmea mulher feita

mal eu sabia que a vida rouba os sonhos
mal eu sabia que o mundo nos desmama
de paixões surdas, cava na cara
sulcos secos, sulcos secos

disse fêmea mulher feita
faz-te fêmea ama-te a ti mesma
o mundo espera cheio de tudo
come-o, feliz, sã, gloriosa, cheia
diz-te fêmea mulher feita

eu não sabia que nascemos sombras
eu não sabia que todos têm medo
de falhar, de perder
não há abraços de fêmea
p'ra embalar o mundo

disse fêmea mulher feita
acabou-se o que era doce
acabaram-se os amantes
o preço na mão estendida
a pagar, a pagar é mais cedo ou mais tarde
não repitas os meus erros
menina feita mulher

disse fêmea mulher feita
disse fêmea disse cresce
disse muda, muda, muda
perde essa estúpida inocência
dia após dia, após dia, para aonde ía,
disse fêmea menina feita mulher
menina feita mulher
menina feita mulher


      O texto  é de Arnold Wesker, traduzido por Maria Velho da Costa, e é sobre uma rapariga que perde a virgindade e se torna mulher. "No principio não era assim" mas surgem os pecados doces que nos concretizam em liberdade, como seres humanos. Muito bem feito.

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