Júlio Dinis


Conceda-se uma lágrima a estas obscuras vítimas dos progressos materiais, lágrima que não importa uma ironia à civilização. Exalta-se embora a rápida carreira da locomotiva, que atravessa como meteoro, as povoações e os ermos, mas não seja isso motivo para condenar a compaixão pela violeta dos campos, que as rodas deixaram esmagadas à beira do carril. Inda quando um vencedor tem um papel providencial a cumprir e o seu triunfo seja uma obra de redenção, o vencido, desde que cai, tem direito a um olhar compassivo, a uma lágrima de saudade. Não tenteis louca empresa de aniquilar o sentimento, espíritos áridos que infundadamente o temeis, como coisa desconhecida à vossa alma seca e estéril. Quem deveras confia nos destinos da humanidade não tem medo das lágrimas. Pode-se triunfar com elas nos olhos.

in, A Morgadinha dos Canaviais

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